quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Já tenho professor? Diário de um aluno aplicado

                                   



Professor ou Docente- Pessoa que ensina uma ciência, arte, técnica, conhecimento.

Para o exercício desta profissão, requerem-se qualificações académicas e pedagógicas. Uma das profissões mais antigas e importantes, tendo em conta que as demais, na sua maioria, dependem dela. Já Platão, na sua obra A República, alertava para a importância do papel do professor na formação do cidadão. Pergunto-me se os ministros leem Platão. Estou na escola e já é tarde, mas ainda quero chegar onde outros chegaram. Mas os professores continuam em casa a aguardar colocação e eu a aguardar por eles, frente a uma porta fechada.

(...)

Será que o sr. Ministro da Educação, Nuno Crato, que certamente já leu Platão, perdeu pelo caminho a noção das suas funções ou quer deliberadamente esquecer que existimos, com uma trintena de anos, o 12º ano por acabar e muita vontade de aprender? E os outros, os mais novinhos, que estão numa escola que se abre como um lugar vazio de saber e de sentido? Uma escola onde se espera no recreio pelos professores, enquanto os professores esperam em casa por alunos que ainda não puderam conhecer. Também os esqueceu? E os filhos dos professores que sentem a instabilidade de uma possível instabilidade, ainda assim desejada, mas que nunca mais vem, a mudança de escola, sabe-se lá que localidade virá a caber aos pais na lotaria cega? 

Como é possível, ano após ano, a colocação dos professores ser tão problemática? O novo sistema de colocações, Bolsa de Contratação de Escola (BCE), mostrou ser ainda mais ineficaz que os anteriores. Quatro semanas depois (praticamente um mês) do início do ano letivo, continuam professores por colocar, mas até nisso, este ano, a BCE inovou: além de os alunos não terem professores para todas as disciplinas, ainda estão sujeitos a perderem alguns dos que já tinham! A professora de Físico-Química teve de se ir embora e nós já tínhamos tido umas boas oito aulas com ela. Ficámos tristes.

(...)

Todos os dias chego à escola, ao cair da noite e pergunto a quem encontrar: "Já vieram mais professores?". "Esta semana fica resolvido o essencial e no princípio da próxima, teremos a situação estabilizada." Palavras do sr. Ministro da Educação que todas as semanas profetiza e erra. "O erro não dá lugar a colocação" disse mais recentemente, contrariando o que havia prometido antes, ao afirmar que nenhum professor iria sair prejudicado. O sr. Ministro esqueceu-se de referir que os professores não são os únicos prejudicados, pois também o são os alunos.

O primeiro período é composto por 13 semanas e, estando nós no fim da quarta, a minha turma ainda não tem professores para as disciplinas de História e de Filosofia. Os meus colegas da área de Ciências (eu sou de Humanísticas) estão numa situação pior, por não terem professores para as disciplinas de Matemática, Fisíca e Química, Biologia e Filosofia.

(...)

Dias depois, mais uma semana de expetativa. Vejo a luz do gabinete do diretor acesa até muito tarde. Tranquilizam-me. Agora é que vai ser. O telefone toca algures e há um professor que se sobressalta e aceita um lugar.

Na semana seguinte veio a notícia: já temos todos os professores. E outubro caminha para o fim. Agora é preciso telefonar a todos os colegas que tiveram vontade de desistir e animá-los. Somos estudantes-trabalhadores. É tão fácil ficar para trás...

(...)

Ponho-me a pensar, espírito crítico e tal... É urgente uma reforma no ensino em Portugal, mas para ser bem feita, temos de arrumar a casa (ME) e mantê-la funcional. Depois pegar em exemplos comprovados de países com elevado sucesso escolar e pensar na reforma, mas feita de dentro, da escola para fora, e não de fora da escola para dentro dela.

Convém também não esquecer que ainda somos um país com baixos índices de alfabetização ao nível da população adulta e não se vislumbra vontade política de investir na formação e qualificação dos jovens e adultos não escolarizados.

  

No entanto, já estamos cansados de novas oportunidades. 

Apetece gritar: basta-nos apenas uma, mas com professores e tudo.



Tiago Ribeiro

10º RH

Clube de Jornalismo

Prof. Ana Isabel Falé

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